Crescer é assustador

Aquele em que escrevo sobre a nostalgia e melancolia das mudanças de crescer.

Querido amigo,

 Crescer me assusta, saber que não vou mais dormir no sofá e acordar na minha cama me apavora. Me assombra ver que não me sinto mais pequena nos braços dos outros, que não tenho mais lugar em um colo seguro. 

 Escrevo sem compromisso para te contar minha angústia ao perceber que agora sou gente grande, percebi isso quando meu primo me chamou para brincar de esconde-esconde e notei que não caberia em nenhum lugar. 

 Os momentos da infância são os mais coloridos, eles tem cheiro de algodão doce e cama elástica. Tudo bem, eu era uma criança que tinha pesadelos quase toda noite, mas ainda sim eles eram os mais legais. A maioria envolvia zumbis, explosões, babás que viravam monstros (o que é engraçado já que eu nunca tive uma babá).

 Ser criança é estar envolta em um lençol em uma manhã chuvosa, assistindo desenho. Crescer é estar envolta do medo de mudar, de não ter mais aquela inocência e olhar curioso do mundo, de se acostumar com a vida monótona. Não quero crescer! Quero comer cereal e beber achocolatado quentinho.

 Tenho medo de mudar, de ralar meu joelho ao tentar correr, de não ter ninguém para segurar minha bicicleta.

Crescer é inevitável e isso me assusta, mas me conforta saber que agora tenho pessoas que vão crescer ao meu lado, que estão com medo disso como você. No fundo, somos crianças que estão com medo de passar pelo túnel escuro, mas aí lembramos que tem outras pessoas no carro.